quinta-feira, 29 de novembro de 2007

BALADA DO IMPOSTOR
(texto escolhido no site http://www.geraldocarneiro.com/ no concurso 'Balada do Impostor' dentre os enviados, juntamente com outros dois - certamente melhores que este aqui).

Geraldo Carneiro sou eu. Este que anda por aí com longos cabelos negros é um embuste, uma patranha. Não sei por qual estúpido motivo pessoas de consolidado intelecto lhe dão tanto e tão inesgotável crédito.

Você talvez me pergunte de que modo se instaurou esta situação que percorre a contramão da ordem universal onde uma pessoa é só e tão somente ela mesma, neste labirinto criado pela relatividade do tempo e pela ilusão de que o feixe multimilhardário de ondas constitui matéria sólida e palpável. Não sei. Formulo como hipótese uma articulação das forças do poder estabelecido para me expor ao mais completo ridículo, depois que capitaneei uma revolta pra independência do Estado da Guanabara, a ser transformado em Estados Unidos da Guanabara, que elevado seria à sua real condição de centro do mundo civilizado. Esta compacta rebelião teve lugar num boteco de Cascadura, de onde partimos a pé três bêbedos, um burrinho sem rabo e dois vira-latas, em direção ao Palácio da Alvorada, com o nobre intuito de declarar independente esta nossa nação, que tem por capital a Estação Primeira da Mangueira, por heróis cívicos Nelson Cavaquinho e Cartola e por repartições todos os pés-sujos e biroscas. Entretanto, o Planalto Central fica bem depois do Méier, onde finalmente desistimos ao parar pra tomar outras e umas.

Tamanha a constituição maquiavélica deste farsante, agora ele se declara impostor numa Balada, sabendo fazer esta confissão soar com uma fina ironia pós - tudo (“sou um impostor, um dia saberão/ que simulei tudo que sempre fui”) no que instaura em meus leitores a certeza de que ele sou eu e eu sou nada. Como se não bastasse, pôs-se a fazer antes de mim todos os meus poemas, emprestando-lhes a sua voz e desempregando a minha.

Agora promove este certame, sem sombra de dúvida a mim mesmo direcionado, e com tal requinte e zelo que qualquer resultado me solapa: se ignora, entre os muitos relatos recebidos, esta declaração, ancora-me no limbo onde me atirou faz tempo; se, por outra, me premia, transforma esta minha dor e desterro em ironia fina e construção sutil, me desterritorializando em definitivo de minha verdadeira essência.

De todo, não sei o que aconteceu: Geraldo Carneiro c’est moi e ninguém percebeu.

domingo, 18 de novembro de 2007

...todo princípio vem depois...




o mundo acabou noite passada, lentamente, alegremente,
entre as vertigens do prazer
na madrugada.

muito cedo, fui à praia conferir:
pela manhã, indiferente,
o sol nasceu
de novo.